Sobre a Fama e a Relevância

Sobre a Fama e a Relevância

Algumas palavras que hoje em dia podem ter o seus conceitos confundidos seriam a fama, a influência, a importância, a popularidade e finalmente a relevância. Mas não deveriam, cada uma serve a um propósito, a um conceito único.

Esta semana, conversando com meu amigo Hernani Heffner na Cinemateca do MAM, lembrei de um episódio que me abalou profundamente e me fez mais uma vez filosofar sobre os tempos que estamos vivendo. Uma época onde a quantidade se sobrepõe de forma terrível sobre a qualidade de tudo. Uma época onde o que importa mais é a quantidade de “likes” sobre qualquer assunto, muito mais do que a qualidade do mesmo.

Venho já a alguns anos batalhando para me tornar uma referência na área da História da Computação Gráfica. Fui sortudo o suficiente para estar na TV Globo no início dos anos 80 e fui, junto com outras poucas dezenas de pessoas no mundo, um pioneiro nesta área. Tendo depois me tornado um Historiador, abracei esta área de pesquisa e tenho me dedicado a palestrar, escrever, informar e divulgar que o Brasil foi importante nesta história.

Dentro deste contexto, o meu amigo Jorge Banda, Supervisor de VFX da TV Globo, convidava-me anualmente para palestrar sobre a arqueologia da CGI para o departamento de VFX da TV Globo, lá no Projac, em uma iniciativa muito bacana e que incluía vários outros temas.

Aí aconteceu o episódio que me abalou e que dá título a este texto. Dentro de uma audiência de umas 30 pessoas, todas funcionárias da TV Globo, do Centro de Pós Produção, o que significa que são artistas de VFX, Editores, Ilustradores e etc, 24 (vinte e quatro) não sabiam quem é Hans Donner!

Como também não sei quem vai ler isso, kkkk, vou rapidamente dizer quem é Hans Donner. É um dos maiores designers do mundo. Criador do Logotipo da TV Globo e durante 40 anos o maior responsável pelo visual da empresa em todas as suas facetas. Praticamente todas as aberturas, grafismos e logotipos das centenas de programas produzidos pela TV Globo neste período, saíam de seu departamento dentro da TV. Apenas em 2016 ele foi afastado desta função, mas permanece na TV, vivinho da Silva e ainda produzindo design.

Como podem 24 profissionais da área não saberem quem é Hans Donner? A relevância do trabalho desenvolvido por ele é inquestionável, mas sua fama acabou, a sua popularidade também. E hoje, sem fama e popularidade, não se tem importância. E se não se tem importância, não se conhece. Infelizmente e lamentávelmente.

Sofro muito com isso em outro trabalho que realizo, o de jornalista especializado em motociclismo. Há mais de 15 anos escrevo em www.motozoo.com.br meus comentários sobre corridas e tudo o que acontece sobre o motociclismo. Procuro escrever um texto de qualidade, acredito que com sucesso. Dá-me muito prazer mas o resultado comercial é nulo, o site não é explorado comercialmente. Outro dia, conversando com o Ricardo Lopes sobre isso, a comercialização do site, ele fez-me uma pergunta logo de cara que liquidou minhas chances, kkkkk. “Mário, vc faz o site prá você ou para o público?”. Pronto, babou. Para ter a quantidade de likes capaz de atrair a este novo público de hoje em dia, a qualidade dos artigos tem que ser ridícula. O que importa é a quantidade. Sempre digo que se eu colocar um macaco pulando e fazendo macaquices em uma moto vai dar mais quantidade de likes, e isso hoje importa mais do que a qualidade de um artigo ou matéria.

Exemplos não faltam. Jorge Lorenzo, cinco vezes campeão do mundo de motociclismo, um dos maiores campeões de todos os tempos, aposentou-se tem apenas 2 anos. Jovem, campeão, milionário, carismático, inteligente, fez um canal de Youtube para comentar as corridas. Virou meu concorrente, kkkkkk. Boas análises, mas no final conseguiu apenas 54 mil seguidores. Parece que desistiu. Vejam bem, qualquer bunduda de comunidade no Rio de Janeiro consegue mais de meio milhão de seguidores. As mais bonitas passam do milhão com facilidade.

É isso, para se ter quantidade, pouco importa a qualidade. Para se ter fama, popularidade e importância para este mundo de likes, pouco importa a relevância. A relevância não é subjetiva, não é popular e ela é permanente. Hans Donner, Jorge Lorenzo são relevantes. Espero um dia ser também.

Sobre o Autor

Mario Barreto administrator

Publicitário, Designer, Historiador, Jornalista e Pioneiro na Computação Gráfica. Começou em publicidade na Artplan Publicidade, no estúdio, com apenas 15 anos. Aos 18 foi para a Propeg, já como Chefe de Estúdio e depois, ainda no estúdio, para a Agência da Casa, atual CGCOM, House da TV Globo. Aos 20 anos passou a Direção de Arte do Merchandising da TV Globo onde ficou por 3 anos. Mudando de atuação mais uma vez, do Merchandising passou a Computação Gráfica, como Animador da Globo Computação Gráfica, depois Globograph. Fundou então a Intervalo Produções, que cresceu até tornar-se uma das maiores produtoras de Computação Gráfica do país. Foi criador, sócio e Diretor de Tecnologia da D+,depois D+W, agência de publicidade que marcou uma época no mercado carioca e também sócio de um dos primeiros provedores de internet da cidade, a Easynet. Durante sua carreira recebeu vários prêmios nacionais, regionais e também foi finalista no prestigiado London Festival. Todos com filmes de animação e efeitos especiais. Como convidado, proferiu palestas em diversas universidades cariocas e também no 21º Festival da ABP, em 1999. Em 2000 fundou a Imagina Produções (www.imagina.com.br), onde é Diretor de Animações, Filmes e Efeitos até hoje. Foi Campeão Carioca de Judô aos 15 anos, Piloto de Motocross e Superbike, mantém até hoje a paixão pelo motociclismo, seja ele off-road, motovelocidade e "até" Harley-Davidson, onde é membro fundador do Museu HD em Milwaukee. É Presidente do ForzaRio Desmo Owners Club (www.forzario.com.br) e criou o site Motozoo®, www.motozoo.com.br, onde escreve sobre motociclismo. Como historiador, escreve em https://olhandoacidade.imagina.com.br. Maiores informações em: https://bio.site/mariobarreto

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