Arquivo mensal 23 de fevereiro de 2018

Quem lembra do AT&T RIO?

Como eu contei antes quando comentei sobre o True Color Paint e seu filho TIPS, eram toscos como ferramenta de arte. Era difícil criar bons degradées, era fácil fazer imagens serrilhadas. E só trabalhavam com imagens do tamanho da placa TARGA ou VISTA, o que constrangiam o tamanho ao máximo de 720×486 linhas.

O formato TGA não tem este limite e então, logo após, a AT&T Lab lançou o RIO :

“Rio graphic software is a DOS-based multimedia design product for graphic design, broadcast and video professionals. It is an object-oriented program, using vector-based drawing tools and resolution-independent technology. It employs such raster image processing features as emboss, contrast, negative, overlay, posterize, pixelize, soften and B&W.”

“RIO graphic software offers high-resolution vector-based design combined with the functionality of a paint package,” said Timothy May, product manager for AT&T’s Multimedia Software Solutions Group. “Its proxy edit feature lets customers use their favorite MS-DOS or Windows-based paint programs from within the RIO software program, and edit any resolution of supported image files.”

Vejam que a AT&T tinha este braço de tecnologia de ponta, de imagem, que depois rolou um spin off para Lucent Technologies.

Ele rodava em DOS, era Resolution Independent e Objected oriented, daí o seu nome – RIO. Requeria uma placa TARGA ou VISTA ou, lembram? MATROX. Não tinha layers, ele tinha Objetos que vc podia escalar com qualidade.

Na prática ele nos libertou do tamanho da imagem, criava grafismos vetoriais que podiam ser escalados com antialiasing, degradées de múltiplas formas, um dithering decente e muitas outras ferramentas. Com ele eu passei a poder pintar grandes imagens para usar como background, texturas mais elaboradas. Embora muitos artistas tenham feito ilustrações até para a impressão usando os primeiros RIO’s for DOS, eu o usava mais como uma ferramenta de apoio e para fazer cartelas como um Chyron. Eu gostava da qualidade dos ramps, dos caracteres, mas não gostava de usar ele. No final desa época ele ia de bundle com o Crystal Topas por 1.000,00 US$. Pouco usado, pouco amado, pouco lembrado, mas todos tinham que ter.

Depois ele evoluiu para versões com Windows e para PowerPC, Alpha, Intel e MIPS. Este mundo de computação já teve muito mais diversidade não é? Mas estas versões de Windows foram logo engolidas no mercado pelo… pelo Corel Draw!

E então, quem usou o RIO?

Abraços

Mário Barreto

QFX – A arma secreta

Vou aqui, de folião, continuar com os meus textinhos sobre a sequência de equipamentos e softwares que tenho usado em minha carreira na CGI. Tenho tido um bom feedback sobre isso, bacana.

Desta vez vou falar sobre o QFX, criado pelo texano Ron Scott em 1990. Tive o prazer de conhecer pessoalmente e conversar com ele em uma Siggraph, o cara foi super gente boa.

Conheçam-o em http://www.ronscott.com/biography.html

O QFX inicialmente era um conjunto de programas que rodavam em linhas de comando DOS, que manipulavam imagens para as placas TARGA e VISTA. TRI, TSI, Blur, Sharp, TMI… eram vários executáveis que escreviam imagens no framebuffer TARGA e as manipulavam de diversas maneiras através de flags e comandos digitáveis.

Neste ponto pude misturar o que aprendi no Cubicomp e no Script, porque fui capaz de modificar o Sequencer do Cubicomp, fazendo-o gerar arquivos .BAT no DOS com uma sequencia de operações frame a frame. Lembrem-se que ainda não tinha sido inventado um Photoshop decente, nem o mercado de edição e composição digital.

Mas nós na Intervalo já fazíamos composições complexas, somando e filtrando imagens frame a frame automaticamente controladas pelos arquivos batch em DOS. O Sequencer era capaz também de interpolar valores e setar steps de intervalos de frames. Os arquivos batch resultantes eram muito sofisticados.

Nesta época, início dos anos 90, abri com a Carla Sprinz uma produtora em SP, a Pickings, e fiz um workshop com uma galera lá. No exemplo/aula que usei para o workshop tive a oportunidade de mostrar como usar o QFX e eles ficaram loucos com isso, pois não tinham idéia de que era possível fazer composição de imagens, abrindo um novo mundo de possibilidades.

Sequencer Modificado

Mas não passei para eles o meu exclusivo Sequencer modificado. Eles dois juntos eram uma uma arma secreta e nos dava um bom diferencial. Tenho ele guardado aqui até hoje, é um talismã.

Usamos muito ele e na época pegamos um contrato com a TV Globo para fazer o resultado do TC Bamerindus. O resultado nos era passado no sábado e tínhamos que fazer o filme de animação no sábado mesmo, pois iria ao ar no domingo. O primeiro deles eu fiz usando um batch que perguntava o resultado e ficava sozinho gerando os frames ao modo do Script, e depois ainda editava sozinho na fita Betacam, também frame a frame. O processo todo levava umas 2 horas. Depois a animação mudou e o Alexandre Sadcovitz fez um programa mais sofisticado usando QuickBasic PRO, mas ainda invocando os executáveis do QFX. Também levava 2 horas, mas era mais sofisticado no gerenciamento das mídias e no tratamento de falhas.

Faustão e o TC Bamerindus

Depois disso os outros softwares foram se sofisticando, o Windows entrou em cena e o QFX foi se tornando rapidamente irrelevante e incompleto. Bom foram os primeiros, que usamos intensivamente.

Abraços e bom carnaval.

Mário Barreto

Crystal TOPAS

Trabalhar na Globograph era bom, era ótimo. Mas tinha limitações evidentes. Tínhamos salário razoável, a equipe era grande, o software proprietário, e isso tudo eram impedimentos para o progresso rápido que queríamos em liberdade, grana e tecnologia. Com o lançamento da Placa AT&T TARGA, dos primeiros PC’s 386, dos primeiros softwares relativamente acessíveis, vimos aí uma oportunidade para crescer.

O primeiro passo foi comprar um PC, uma TARGA 16 Bits e um TOPAS.

Targa+

 

O Topas foi desenvolvido pela Crystal e vendido também pela AT&T como parceiro da TARGA. Era o kit, TARGA + TOPAS +  que era o paint system derivado do True Color Paint que falei em artigo anterior. Um sucesso.

Eu, já na Torre do Rio Sul, mas usando Crystal

O primeiro TOPAS que tivemos, versão 2 ponto alguma coisa, era um lixo completo e quando a primeira versão usável apareceu, 3 ponto alguma coisa, nós escolhemos usar o original, o Crystal e não o TOPAS. Eles eram iguais em features e a diferença era que o TOPAS rodava inteiramente na placa TARGA, no monitor RGB. A interface com o usuário era diferente, e para mim, pior. O Crystal, dividindo a interface em dois monitores, parte na tela CGA e apenas a imagem de TV no monitor RGB, era mais parecido com o Cubicomp, com o Script e a tela CGA mantinha mais informação disponível ao mesmo tempo. Era muito melhor, mas poucos usavam Crystal, a imensa maioria usava o TOPAS que era mais conhecido e vendido em bundle com a placa.

Nesta época tudo era problema. Ainda estávamos na reserva de mercado, então o PC era uma porcaria nacional montado com placas bem vagabundas e caras, em um gabinete horroroso. A Targa e o Tablet Summagraphics foram trazidos em uma viagem por um amigo e o monitor RGB foi fabricado in-house pelo Sérgio Fiúza, modificando uma TV Phillips caseira. Começamos logo esbanjando memória, 8 Mb de RAM, um luxo.

Funcionava bem. O sistema era mais moderno do que o Cubicomp que eu usei, o Picture Maker 30. Era otimizado, render rápido, poucas funções mas tudo o que tinha funcionava bem e com segurança. Era menos aberto em conceito, não tínhamos muito como torturar o sistema para obrigar ele a fazer o que queríamos, ele não tinha muitas portas para isso.

Nesta época, do 5.1, já estávamos migrando para o 3D Studio. Mas vejam como o preço caiu.

Tudo era ruim no sistema, o render vagabundo, a animação difícil de controlar pois ele só respeitava os keyframes iniciais e finais, sendo que os intermediários eram usados como pontos de controle. Mas era um ruim que nos ajudava, pois tendo experiência e sabendo identificar uma imagem ruim e uma animação ruim, conseguíamos atuar para minimizar.

O Cassiopéia foi realizado em TOPAS e eu treinei parte da equipe.

Logo a produtora cresceu e tivemos que comprar mais TARGA’s e aprender uma maneira de duplicar os softwares!! Antes do 3D Studio, cada estação tinha que ter seu frame buffer. Compramos a evolução da TARGA, a TARGA+ e o Sérgio Fiúza e o Alexandre Sadcovitz vieram para assumir estas estações. Junto com o Thomas Wilson a equipe ficou finalmente completa.

Ainda não existia uma rede boa, e no início usávamos cabos centronics paralelos com Laplink para ligar os computadores e transferir arquivos!, e patchs de video para ligar na novíssima Sony BVU-950, controlada por um controlador que o Sérgio construiu. Ainda não usávamos um Encoder, usávamos a saída de composto podre da própria TARGA.

Nossa expertise de TV Globo fez MUITA diferença neste início. Esta instalação, junto com o pacote QFX do Ron Scott, nos permitia fazer coisas que os demais usuários de TOPAS nem sonhavam. Isso nos permitiu crescer bastante e rápido na publicidade.

Para TV, nosso primeiro trabalho grande foi para a TV Manchete, umas vinhetas criadas pelo Adolfo Rosenthal e o Toni Cid Guimarães, os dois também ex-Globo. Lembro que como não tínhamos máquinas de 1 polegada, a TV Manchete levou lá uma BVH-500… vou te contar… ficou pior do que a nossa U-Matic, que era completa e tinha o Board TBC e TC.

O Crystal nos serviu até o advento do 3D Studio, que rompeu barreiras técnicas e marcou uma nova era para os estúdios, mas isso fica para o próximo post.

Como sempre, espero que estejam gostando.

Mário Barreto.