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PorMario Barreto Publicado 15 de março de 2024

Sam Altman disse 95%. É quase tudo.

Nasci publicitário. Quando nasci Mamãe trabalhava na Grant Publicidade. A imensa maioria nunca ouviu falar, ignorância, a Grant foi grande: http://www.janelapedia.com.br/index.php/Grant

Foi a Grant também que me sustentou (hehe, meu dinheiro vinha de Mamãe) até eu começar a trabalhar. E, sem nenhuma surpresa, comecei a trabalhar em propaganda. Meu primeiro emprego em agência foi na Artplan, para onde fui ocupar o lugar do Eduardo Martins no estúdio. Já éramos amigos. Godim foi para a CBBA em sua primeira posição como DA, e me deixou gramando no estúdio da Artplan.

Nesta época, final dos anos de 1970, a publicidade era uma profissão de Gentlemans, e tinha exigências muito diferentes das de hoje em dia. Para ser Diretor de Arte, por exemplo, era necessário saber desenhar. Admitia-se que os DA’s não fossem ilustradores, até porque os ilustradores da agência eram Valter Maia e Benício, mas todos eram. E, para ganhar dinheiro como Redator, era necessário saber escrever bem um texto criativo/técnico publicitário. E tinha que sair de dentro da cabeça, pois ainda não tinha sido inventado o microcomputador. Toda a criação saía em layouts marcados com Stabilo e em textos digitados em máquinas de escrever. Sem nenhum computador, sem Google, sem pesquisas de imagem… saía da cabeça e da consulta de revistas e anuários. Também não existia o videocassete VHS. Incrível não é?

Não lembro se já existiam cursos de publicidade nas faculdades, mas isso não importava. A maioria dos profissionais na agência, na criação contava com o talento e vocação para a função. O publicitário é (era) um tipo diferente de profissional… uma pessoa observadora, sensível, capaz de entender, decifrar e codificar o mundo em formatos especiais (30 segundos de um comercial ou as páginas de uma revista). Eram todos artistas, raros, de difícil formação e talvez por isso eram disputados a tapa, não faltavam empregos e bons salários.

A criação era uma elite. Ganhavam bem, vestiam-se bem, tinham coisas caras, moravam bem, era uma elite.

Semana passada eu conversava com o Godim sobre a muito badalada previsão do Sr. Samuel Harris Altman – https://www.marketingaiinstitute.com/blog/sam-altman-ai-agi-marketing

Pois é, lemos e não duvidamos. Tanto fizeram para afastar a atividade do Publicitário da Arte, da Genialidade, do Talento, que agora serão todos substituídos por uma I.A. Parabéns.

Washington Olivetto vem reclamando da desvalorização do Publicitário desde os anos 90 do século passado, mas as coisas aceleraram muito nos últimos anos. O mundo mudou, as agências foram vendidas, os clientes foram vendidos. Hoje estão no controle não mais Fundadores, Inventores e Publicitários mas sim empresários e investidores. Muitos não entendem nada de publicidade e esta coisa de valorização de Publicitários só dá despesa. Praticamente todos os Grandes Publicitários do mundo não estão mais trabalhando em publicidade. A maioria está rica, contando metal, mas sem trabalhar em publicidade. Ultimamente também a onda Woke, que chegou com tudo. Onde a diversidade é mais importante do que tudo. O indivíduo pode nem ser o talentoso e bom Publicitário com o talento necessário, mas tem a diversidade necessária para a equipe.

Disse o Godim: “As agências caíram na besteira de virarem tecnológicas abraçando Google, Facebook, Instagram, Tiktok etc… Fizeram um tremendo esforço para transformar humanas em exatas. E agora, tecnologia por tecnologia, a I.A. faz.”

Eu não poderia concordar mais. As agências, cada vez mais iguais, cada vez mais dirigidas por pessoas que não são publicitárias, cada vez mais sem lideranças, cada vez mais wokadas, sem arte, sem brilho, com profissionais mal pagos (comparando com os salários do passado recente), caminham para virar um programa de computador.

Sem choro nem vela, ainda vão aplaudir, I.A. é o futuro!

PorMario Barreto Publicado 12 de março de 2024

Gente… é mentira.

Ah… as coisas não mudam e sempre tem um guru, influenciador, sabichão, coach, espertão para dizer que o segredo é “fazer mais por menos”. Acabei de assistir um filme de uma produtora falando novamente isso.

Me lembrou o papo que eu tive com o saudoso amigo e publicitario Marcos Calvi. Fizemos um monte de filmes juntos. Ele me ligou, para me alertar de que ele recebeu uma proposta bem atraente de um concorrente meu, preu ficar ligado.

A proposta era a seguinte… a produtora entraria no processo criativo bem no seu início, colaborando na criação. Isso, segundo eles, minimizaria ruídos e seria capaz de gerar um resultado mais efetivo e orçamentos mais adequados. Ele achou a proposta incrível!

Eu imediatamente retruquei… então… a produtora se ofereceu para trabalhar mais, por mais tempo, para no final de tudo ter como objetivo reduzir o valor do orçamento. Não achei grandes coisa. Na verdade, achei uma proposta de merda. Além do que, meu trabalho seria o de diretor de filmes, com responsabilidades sobre a direção, animação, VFX, cinematografia, edição e produção.

No meu caso, sou também publicitário e criativo, comecei na Artplan e cheguei até ser dono de agência, mas não estaria dentro do escopo da produtora, criar o filme. É outro trabalho.

Agradeci a preocupação do amigo, mas disse que eu jamais concordaria com isso. Na minha cabeça mais trabalho=mais caro. Igual no supermercado quando eu compro mais 1kg de arroz=mais caro.

Pressionados pelos clientes, que há muito tempo são geridos e comandados por financeiros, as agências procuram orçamentos cada vez menores e sempre tem um sabichão para dizer que é assim que se faz.

Idiotas. A produtora que na época ofereceu este trabalho ao meu amigo não durou nada… desapareceu. A agência do meu amigo derreteu também.

Não há segredo no sucesso financeiro de um negócio, basta ser pago, justamente, por todos os seus trabalhos. Se você consegue ser pago justamente por seu trabalho, por um tempo suficiente, vc vive e faz reservas para viver e investir na sua vida, no seu negócio, no seu mercado.

Sempre irão aparecer estes espertos para dizer que a tecnologia, a IA e outras coisas irão permitir orçamentos mais enxutos, mais baratos. Uma mentira, porque a capacidade de cobrar, mudar, refazer, dos clientes, é infinita, de modo que o tempo médio para a produção de um filme mais ou menos se mantém. O seu custo é mais baixo em pessoal, em equipamentos, mas mesmo assim, não compensa, porque concorrentes nascem a cada segundo e não se realiza a quantidade que seria capaz de contrabalançar o preço mais baixo.

Lembrando que o seu preço abaixa, mas o colégio das crianças, o carro, o aluguel, as passagens aéreas, o supermercado, sobem. A tecnologia permite equipamentos mais baratos, mas reparem que são outros equipamentos, não são os mesmos. No seu caso, é o mesmo trabalho.

Os clientes, geridos por financistas, só pensam em dinheiro, em economizar em tudo para que sobre mais para os acionistas, os “stockholders”. Não são seus amigos ou parceiros para nada.

As agências, pressionadas por seus clientes, também não são. Salvo interesses específicos, tem 2.671 opções para escolher no mercado.

Além do que, são quase todas parte do WPP, Interpublic, Omnicom ou Publicis, que por sua vez são da BlackRock e Vanguard, que controlam a maioria dos grandes clientes do mundo. Ou seja, é tudo farinha do mesmo saco, controladas por financistas.

Finalizando, é mentira que a redução dos preços forçada pelos financistas e operacionalizada pela tecnologia é um bom futuro. Não é. A redução “seus” preços apenas concentra os lucros nas mãos deles, onde geralmente os preços, sempre, sobem.

Fica a dica. Grato.

PorMario Barreto Publicado 8 de novembro de 2023

Imagina e AC2R criando com IA!

Para atender ao nosso cliente, a Construtora AC2R, a Imagina fez uso intensivo de tecnologias que estão todos chamando de Inteligência Artificial. E foi uma experiência incrível.

A demanda foi a de realizar uma simplificação do Código de Ética e Compliance da Construtora, visando um público alvo de operários da construção civil. O formato escolhido foi o de Quadrinhos, para tornar além de simples, atraente.

Para a simplificação e edição dos textos necessários, usamos extensivamente o Open AI ChatGPT. Bem direcionado, corrigido e baseado no texto original o sistema foi capaz de editar textos adequados a nova proposta, acelerando e facilitando muito o processo de criação.

Para a ilustração dos Quadrinhos, foram produzidas mais de 40 ilustrações, usando o Discord  MidJourney. Uma ferramenta difícil e desafiadora, que estamos apenas começando a explorar, mas que apresentou um resultado fenomenal, frente a qualidade obtida e a velocidade de produção.

E para a arte-finalização, montagem dos Quadrinhos, usamos o Canva, que melhora a cada segundo e no momento apresenta ferramentas de produtividade incríveis. Uns poucos retoques foram necessários usando Adobe Photoshop e GIMP.

Somente desta maneira, usando ferramentas avançadas de IA, foi possível cumprir o prazo e manter o preço dentro do orçamento. É uma revolução na maneira de trabalhar e que vai impactar de maneiras novas o mercado de trabalho para designers, criadores e ilustradores.

Dividindo  minha experiência com minha orientadora de Mestrado, a Professora Roberta Portas da PUC-Rio, chegamos a conclusão de que a formação, talentos e capacidades dos profissionais, em sua base, não mudará muito. Fui bem sucedido porque tenho a experiência, o talento e a competência para usar as ferramentas de forma correta, eficiente e fazer boas escolhas, direcionando “prompts” de maneira a extrair delas um bom resultado. Lembrei que antigamente, eu tinha que manipular um aerógrafo para criar um degradée, algo que hoje é feito em segundos com o Adobe Photoshop, e isso não fez de mim um designer ou artista ultrapassado ou inútil. É um novo mundo que está diante de nós.

 

PorMario Barreto Publicado 23 de outubro de 2023

TransBrasil

Gente… e não é que a Transbrasil ainda não ficou pronta?

Em outubro de 2014, ou seja, 9 anos atrás, eu recebi uma ligação aflita do consórcio construtor dizendo que dali a uma semana o Prefeito Eduardo Paes iria falar em um evento aberto ao público, dando o ponta pé inicial para as obras da quarta linha BRT da cidade. Depois da TransOeste, da TransCarioca e da TransOlímpica, estava chegando aí a TransBrasil, que seria (será?) a maior linha BRT do mundo!

Sem briefing, sem nada, tipo se vira aí seu Mário e faça um filme para o evento… Como eu gosto de dinheiro e de trabalhar, meti “as caras”, escrevi e produzi em tempo recorde um filme contando a história da Avenida Brasil, que é incrível. Contando a história dos prefeitos que mexeram nela… ficou um filme muito bacana e olha que nesta época eu ainda não era Historiador.

 

Pois é, ficou bonito mas foi bombado pela assessoria do Prefeito. Falaram que ele não curte ser comparado com ninguém, e que a história da Avenida Brasil não interessava. Uma pena, foi tudo para o lixo.

Passaram finalmente um briefing e ainda zonzo da trabalheira que foi fazer o primeiro filme, meti bronca e falei que para fazer outro, eu cobraria de novo. Não tive culpa pela desorientação. O prefeito adiou por uma semana o evento e tive mais uma semana para começar do zero um outro filme.

Foi também uma maluquice sem fim. Como cinegrafista e DP usei meu camarada, o agora canadense Vilson Jr., muita imagem de helicóptero e um corre-corre sem fim para aprontar.

Lembrei de contar isso agora hoje mexendo em meus arquivos achei uma imagem de proposta de estação de BRT. Tudo porque na véspera, literalmente na véspera da exibição do filme, ainda faltando muita coisa, o Prefeito berrou e disse que não queria aquele “galinheiro” como design para as estações e mandaram esta imagem aí. Muito mais bonita. Agora imaginem, o filme quase lá e teríamos que mudar todas as estações, em 3D render. Não dava, era impossível.

O Prefeito tem razão, o design atual é um galinheiro. Este aí é muito mais bonito.

 

 

Virei a noite inventando uma edição para resolver isso e foi a primeira e única vez na vida que um trabalho me deixou biló das idéias. Eu surtei. Mas me recuperei e inclusive fui lá no evento participar da exibição. E, longe, muito longe do que se tinha planejado, funcionou!!!!!

Estamos agora, 9 anos após este episódio, a TransBrasil não ficou pronta e as estações são o galinheiro que o Prefeito detesta. Será que um dia esta TransBrasil ficará pronta? Funcionará? Como diria minha mãe, “sabe Deus!”

Fica aí mais este trampo. Adoramos fazer, mesmo surtando.

 

PorMario Barreto Publicado 11 de setembro de 2023

TC Bamerindus

Conforme eu havia prometido, vou escrever sobre o trampo histórico que realizamos durante anos, para a TV Globo, que foi a animação dos resultados do TC Bamerindus.

Isso é história! E é adequado, pois eu sou historiador, e dedicado a contar a história da televisão, propaganda, computação gráfica e efeitos no Brasil. Graças a Deus eu tenho o que contar.

Então amigues, o TC, Títulos de Capitalização, Bamerindus eram sorteados no sábado à noitinha, e no mesmo sábado uma animação com este resultado tinha que ir ao ar ao vivo no programa do Faustão. Para quem não sabe, e devem ser muitos, o Bamerindus, Banco Mercantil e Industrial do Paraná, foi um banco paranaense que alcançou muito destaque no Brasil. “O tempo passa, o tempo voa; e a ‘Poupança Bamerindus’ continua numa boa… é a ‘Poupança Bamerindus’!

Pois é, estes contratos eram gerenciados pelo Departamento de Merchandising da TV Globo, onde eu muito orgulhosamente fui Diretor de Arte por alguns anos e tinha muitos amigos. A TV Globo então me consultou… Mário… dá prá fazer?

Era puxado. Primeiro porque tinha que trabalhar nos sábados… todos os sábados. Segundo, porque em uma época quando a edição era em fita de video tape, e realizada quadro a quadro, ou seja, os computadores não conseguiam ainda dar “play” em uma animação em 29.97 quadros por segundo, eu tinha que resolver de uma maneira o mais eficiente e automatizada possível.

Topei, e junto com a minha equipe na época, Thomas Wilson, Levi Luz, Paulo Galvão e outros, criei uma animação que pudesse ser automatizada usando as ferramentas rudimentares de composição digital que tínhamos, as QFX. Em uma expertise que eu levei da Globo Computação Gráfica, que hoje é banal mas na época não era, éramos capazes de fazer as animações separadas e aplicar em composição com o canal alpha, fazendo multilayers em uma época bem anterior ao After Effects e quetais…

Na TV Globo tínhamos o Mario Augusto, o Paulo Roberto, José Mauro e mais um monte.*

*Mário Augusto me mandou mensagem corrigindo algumas coisas. Memória de elefante. Lembrou-me de trabalhos anteriores que eu nem em sonho lembraria, como umas vinhetas em CGI para as Olimpíadas do Faustão, e deu créditos importantes para o querido e inesquecível Reinaldo Bierrenbach e do também querido Marcelo Duarte, que foram os que mais atuantes estiveram neste trabalho do TC Bamerindus. Disse-me também que meu contrato era com a Talent, do também querido Júlio Ribeiro e aí sim eu lembrei da reunião em São Paulo quando batemos o martelo disto tudo.

Paulo Roberto, Adicanor Bordini…

Criamos a animação (uma pena que eu não as tenha aqui na mão). Eu programei um sofisticado arquivo de DOS Batch, usando uma versão modificada do Sequence do Cubicomp, que permitia fazer algumas interpolações, junto com o Ron Scott QFX, que também me permitia manipular parâmetros. No final eu tinhas os números separados com alpha channel e os ia aplicando manipulando as suas posições x,y, salvando a sequência de arquivos TARGA que depois eram editados Frame a Frame na nossa Betacam SP. Funcionou 100% sem falhas, mas demorava umas 3 horas para acabar todo o processo.

Funcionou tão bem que a TV Globo renovou o contrato e para a nova temporada eles pediram uma nova animação. Esta nova eu também participei, mas o na época meu sócio Alexandre Sadcovitz fez um programa muito mais sofisticado em Quick Basic Professional, usando as mesmas ferramentas, mas com interface e mais sofisticação e facilidade de uso, identificava a fita, dava previsão de conclusão… um luxo.

A pior parte era gerenciar a galera. Fazíamos rodízio para este maldito sábado (eu não, eu era chefe né), mas não podia ter falhas. Uma vez falhou, a pessoa designada sumiu e eu tive que vir correndo de Angra dos Reis para fazer a animação. Até o fim, sempre rolava um certo stress.

O processo era ficar na produtora até receber a chamada do Produtor da TV Globo, que passava o resultado. Conferido, ele perguntava quando ficaria pronto e dávamos início a produção. Entrávamos com os dados no computador e aguardávamos o render e depois a rebolada Frame a Frame da Betacam fazendo a edição das centenas de imagens, uma a uma. Mesmo tendo sido aprimorado, o processo ainda levava mais de 2 horas. Descia-se para comer alguma coisa, fazer hora e na volta tínha-se que conferir, travar a fita e ir entregar no Jardim Botânico. Em toda a minha vida de produtor, foi um dos únicos trabalhos certos, com contrato anual, que eu tive na vida.

Estou procurando imagens e assim que eu achar eu coloco aqui.