3D Studio, a Segunda Revolução

porMario Barreto

3D Studio, a Segunda Revolução

Chamo de primeira revolução o lançamento dos PC’s capazes de produzir imagens comerciais. Nem tanto o Cubicomp sobre o qual escrevi antes, eram ainda muito caros, mas com o advento das placas TARGA e o TOPAS, abriu-se a porta para que uma nova categoria de empresas e profissionais pudesse explorar. Antes era um território totalmente inóspito, de hardware e software proprietário, virtualmente inacessível.

Mas mesmo com os PC’s, ainda era um investimento considerável. Ainda mais se fosse considerado o investimento em vídeo profissional. Minha primeira U-MATIC BVU-950 SP, com board TC e TBC custou incríveis 20 mil dólares FOB, o que dava mais de 40 mil dólares se somarem os impostos, seguro, frete e demais taxas. E não era só isso, era necessário um Pulse Generator, um controlador de VT, um Patch, um Encoder, Decoder, Transcoder, Monitores RGB, cabos e instalações. Barateou demais, mas ainda era dinheiro.

Porém, o 3D Studio chegou em 1990, os PC’s já tinham placas VGA, SuperVGA High Color, algumas até Full Color, e isso libertou as pessoas de uma instalação de vídeo. Subitamente passou a ser possível trabalhar profissionalmente de qualquer PC, em casa, sem um único cabo BNC, tudo só no computador! Sem um monitor RGB separado, o que já era difícil e custoso. Hoje pode parecer estranho isso, mas isso, mais do que as qualidades do software, foram ao meu ver, o principal motivo para que o 3D Studio virasse o software de quase todos os artistas de 3D do mundo. Um domínio que está aí até hoje. Nasceu aí. O hardware de PC nesta época eram os 486.

Ele nasceu com um departamento da Autodesk, não ainda a toda poderosa de hoje, mas já uma grande empresa. Sua divisão de multimídia vinha alcançando sucesso com o Autodesk Animator, depois Animator Pro, e eles montaram uma pequena, minúscula equipe capitaneada pelo Gary Yost, para tocar esta empreitada.

Conheci o Gary em uma Siggraph, muito gente boa mas também achei ele muito maluco com a mania que tinha de mostrar o software batendo o mouse com força na mesa. Coisa de doido.

Gary Yost

Logo de cara o 3D Studio, para DOS, era muito superior em absolutamente tudo do que os seus concorrentes. Filosoficamente, estruturalmente. Suas ferramentas de modelagem e animação eram mais complexas, ele era pretensioso mesmo, colocava um poder desconhecido na mão dos animadores. Era até perigoso, porque muitas das coisas que ele prometia, e até começava a fazer, no final não acabava, hahaha.

Ele tinha uma arquitetura aberta, os IPAS plugins, ele permitia scripts, ele permitia arquivos ASCII nos modelos, era um assombro de possibilidades. E o render, apesar de simples, tinha custo benefício. Não era bom, mas não era ruim. Era “resolution independent”, vc podia fazer render em resoluções grandes para efeitos, para print… e tudo isso na sua casa.

Lógico que todo mundo que trabalhava com 3D ficou doido para ter uma cópia pirata e mesmo sem internet ainda, já existiam BBS’s e rapidamente apareceram empresas para quebrar os dongles e ele se espalhou pelo mundo. A AT&T reagiu lançando o incrivelmente ruim TOPAS VGA, mas não dava nem para o cheiro, o 3DS levantou o sarrafo.

Monorail – Intervalo – 3D de Rogério Vaz

Era bem diferente do 3D MAX, e bem constrangido pelas limitações do DOS e sua memória doida. A Intervalo imediatamente largou a produção baseada em Crystal e adotou o 3D Studio em todas as suas versões. Compramos até uma coisa que NUNCA funcionou, que foi um Render de 3D Studio para MIPS, para aproveitar o processamento das nossas Silicon Graphics para o render. Tudo ruim, o licenciamento confuso, o software confuso e o desempenho não valia a pena.

Nesta época lembro-me de que o Alexandre Sadcovitz mergulhou no software. Depois Marcelo Souza, Paulo Galvão, Rogério Vaz e muitos outros. Mesmo quando compramos o Alias|Wavefront para rodar nas SGI, o 3D Studio manteve-se como a principal ferramenta de 3D, porque era rápido, porque tínhamos muitas cópias.

Para não ficar muito grande, depois escrevo sobre o 3D MAX, que nasceu já em outras circunstâncias, e que é muito diferente do 3D Studio for DOS. o Max já nasceu na existência do Windows NT, que trouxe um mundo totalmente novo e que sacudiu o mercado de softwares de 3D.

O Gary Yost depois saiu da Autodesk e 3D Studio e foi para a Mental Images. Depois curtir o que sempre amou fazer, fotografia. Vejam em http://www.garyyost.com

Para mim o 3DS foi uma revolução e tanto. Barateou demais a instalação de um assento de animação, ao dispensar os frame buffers. Depois, de uma maneira torta, por causa da pirataria, aumentou demais a oferta de profissionais para a produtora. Antes dele, tínhamos que praticamente formar todos os colaboradores. Depois do 3DS as pessoas chegavam já sabendo trabalhar. Vejam que tudo mudou, mas até hoje o 3D MAX é o mais usado do mundo.

Mário Barreto

Sobre o Autor

Mario Barreto administrator

Publicitário, Designer, Historiador, Jornalista e Pioneiro na Computação Gráfica. Começou em publicidade na Artplan Publicidade, no estúdio, com apenas 15 anos. Aos 18 foi para a Propeg, já como Chefe de Estúdio e depois, ainda no estúdio, para a Agência da Casa, atual CGCOM, House da TV Globo. Aos 20 anos passou a Direção de Arte do Merchandising da TV Globo onde ficou por 3 anos. Mudando de atuação mais uma vez, do Merchandising passou a Computação Gráfica, como Animador da Globo Computação Gráfica, depois Globograph. Fundou então a Intervalo Produções, que cresceu até tornar-se uma das maiores produtoras de Computação Gráfica do país. Foi criador, sócio e Diretor de Tecnologia da D+,depois D+W, agência de publicidade que marcou uma época no mercado carioca e também sócio de um dos primeiros provedores de internet da cidade, a Easynet. Durante sua carreira recebeu vários prêmios nacionais, regionais e também foi finalista no prestigiado London Festival. Todos com filmes de animação e efeitos especiais. Como convidado, proferiu palestas em diversas universidades cariocas e também no 21º Festival da ABP, em 1999. Em 2000 fundou a Imagina Produções (www.imagina.com.br), onde é Diretor de Animações, Filmes e Efeitos até hoje. Foi Campeão Carioca de Judô aos 15 anos, Piloto de Motocross e Superbike, mantém até hoje a paixão pelo motociclismo, seja ele off-road, motovelocidade e "até" Harley-Davidson, onde é membro fundador do Museu HD em Milwaukee. É Presidente do ForzaRio Desmo Owners Club (www.forzario.com.br) e criou o site Motozoo®, www.motozoo.com.br, onde escreve sobre motociclismo. Como historiador, escreve em https://olhandoacidade.imagina.com.br. Maiores informações em: https://bio.site/mariobarreto

Deixe uma resposta